1. Operação Portugal é um código interno da Folha. Reportagens encomendadas pelo falecido seu Frias tinham essa alcunha. Era a matéria do dono do jornal. Ruim ou boa, com ou sem fatos, teria que sair. A revistaVeja desta semana cometeu uma Operação Portugal. Na tentativa de publicar uma matéria contra o ex-ministro José Dirceu, meteu os pés pelas mãos, fez uma lambança danada e pode ter cometido vários crimes pelo caminho. Primeiro, tentativa de invasão de domicílio, em seguida estelionato, compra (ou tentativa) de correspondência violada. Como provavelmente os editores da revista sabiam das tentativas do repórter Gustavo Nogueira Ribeiro, inclui-se formação de quadrilha. À lista pode crescer. Veja acusa o Hotel Nahoum de incriminar Nogueira injustamente, instado por Dirceu. Neste caso, Veja afirma que o Hotel fez uma falsa comunicação de crime.
2. A tentativa, de tão patética, lembrou o assalto em 1980 a uma agência do Bradesco na Avenida Paulista. O plano, proposto por um amalucado que teria uma “denúncia” contra a Eletronorte foi bancado pelo jornal. O chefe de reportagem na época não só despachou uma equipe junto com o assaltante, como pagou o taxi que levou o doido até a porta do Bradesco.
3. A farsa da matéria que tentou desmascarar José Dirceu como “homem que age nas sombras de Brasília” começou a se desfazer no ar quando o ex-ministro de Lula denunciou a tentativa de invasão de seu quarto no Hotel Nahoum pelo repórter Gustavo Nogueira Ribeiro. O que saiu na Veja desta semana é ruim de doer. A revista conseguiu a proeza de fazer um relato da agenda de Dirceu, dos deputados e senadores que ele recebe em Brasília. Se isso é crime, os jantares na casa do Andreas Matarazzo também o são.
4. Na tentativa de conseguir algo mais concreto que as “amizades” de Dirceu para bancar o lead da matéria, segundo o boletim de ocorrência, Gustavo teria tentado dar um passa moleque na camareira dizendo que havia se hospedado no quarto pertencente a Dirceu e perdera a chave. Diante da insistência do repórter a camareira checou a lista de hóspedes. Enquanto a camareira acionava a segurança, Gustavo deixou o hotel. O boletim não é claro o suficiente, mas, ao que tudo indica, Gustavo voltou mais tarde e hospedou-se em um quarto ao lado do de Dirceu, mas deixou o hotel sem fazer check-out ou pagar a conta. Neste caso, hospedar-se em hotel e deixar o quarto sem pagar conta caracteriza crime de estelionato.
5. O Hotel também não é santo nesta história. Além de deixar uma pessoa que não é hóspede circular pelos seus corredores sem ser notado, ainda vazou imagens do circuito de câmeras que mostra Dirceu e os senadores petistas Walter Pinheiro, Delcídio Amaral e Lindbergh Faria. Afinal as câmeras são usadas para segurança e não para espionagem. Mesmo cooperando com a revista, a máfia não perdoa, como lembra Veja no final de sua reportagem. A revista acusa o Hotel de ter comunicado um falso crime – a tentativa de invasão do quarto de Dirceu – para defender o cliente. Segundo a revista, o Hotel, instado pelo sócio de Dirceu levou o repórter, que apenas fazia seu trabalho, à polícia. Temos mais um delito: falsa comunicação de crime.
6. Mas o mais grave foi descoberto devido à inépcia de Gustavo. O repórter da Veja passou por normas básicas da reportagem. Fez contato via twitter com Douglas Lopes. “@douglaslopesweb Sou repórter da Veja. Preciso conversar com você. Qual seu email?”.
Malandro é malandro. Douglas, depois de algum tempo, tuita sem dizer com qual arroba está falando: “Meu Gmail é esse: douglaslopesweb@gmail.com Quem quiser add no gtalk e pegar algum suporte. Se quiser mandar virus tb adoro testar vírus”.
7. Douglas Lopes é evangélico e hacker. Jovem da periferia de Brasília, ele invadiu (não sem ajuda do UOL) e copiou 25 mil e-mails do ex-ministro José Dirceu e tentou vender as informações à oposição. Mais uma vez, malandro é malandro. Segundo a IstoÉ de 1 de julho, o “hacker procurou o ex-deputado Alberto Fraga, presidente do DEM do Distrito Federal, para vender sua muamba por R$ 300 mil. Antes, ele teria procurado líderes do PSDB e oferecido o material por um valor superior”.
8. Fraga é mais malandro que Douglas. Segundo ele, quando recebeu o rapaz no dia 9 de junho em Brasília, viu alguns emails de Dirceu e da presidente Dilma Roussef e gostou da história. Faria a república tremer. Mas Fraga é ex-deputado. Ex não tem foro privilegiado, não tem imunidade. Estaria recebendo o material, fruto de roubo e quebra de sigilo e seria cúmplice do crime.
9. Como na escala darwiniana de manés e malandros de Brasília o repórter da Veja está mais para plâncton, mesmo com a PF na cola de Douglas, Gustavo Nogueira Ribeiro procurou o hacker. Certamente queria dele os 25 mil emails de Dirceu. Se Gustavo não esperava ter o material de Dirceu nas mãos, na semana em que tentou invadir o quarto do ex-ministro, teria ele ido apenas tomar café com Douglas? Supostamente não. Esperava lá encontrar lastro para a matéria de capa da Veja desta semana.
10. Se a PF não começou a investigar o repórter da Veja, uma vez que o crime de tentativa de invasão de domicílio tem um menor poder destrutivo e estar circunscrito na esfera da Polícia Civil do DF, há bons e novos argumentos para enquadrar Gustavo Nogueira Ribeiro em uma investigação. Douglas, o hacker pobre e evangélico, não copiou somente emails de Dirceu. O ex-deputado do DEM admitiu ter visto emails pessoais da presidenta Dilma. Dirceu não tem foro, mas, no caso da presidenta, trata-se de uma questão de segurança nacional.
11. Mais, a PF pode ter em seu poder material suficiente para enquadrar o repórter da Veja, uma vez que Douglas está sob investigação federal.
12. No assalto ao Banco Bradesco, cometido em mancomuno com jornalistas do Estadão, o chefe de reportagem, e mentor do “furo” virou um zumbi na redação. De setor em setor, até ser demitido, havia os que nem lhe falavam bom-dia. A máfia não perdoa. Especialmente os manés.
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