O "Helipóptero"
Por Idelber Avelar Guarani Kaiowá
Flashback do dia: 30 de junho de 2011. É presa em Cláudio uma quadrilha acusada de vender absolvições a traficantes de drogas. Entre os presos, está Tancredo Aladin Rocha Tolentino (vulgo "Quêdo"), primo de Aécio Neves. Não só um primo qualquer, mas o organizador das cavalgadas da família, o vendedor das cachaças da família Neves e proprietário do sítio no qual o próprio Aécio havia caído do cavalo e quebrado cinco costelas duas semanas antes, no dia 17. Entre os presos também estava o Desembargador Hélcio Valentim de Andrade Filho, que a própria Polícia Militar de Cláudio (MG) descrevia como alguém de "íntimas relações" com o Senador. Rogério Lanza Tolentino, outro primo de Aécio, havia sido condenado, na mesma época, na 4ª Vara Criminal, a 7 anos e 4 meses de prisão, por lavagem de dinheiro. Você imaginaria que esses episódios mereceriam alguma cobertura jornalística nacional, né? No dia 30 de junho de 2011, eu cobrava no Twitter a presença de jornalistas em Cláudio (http://bit.ly/1jJMLL0). No dia 01 de julho de 2011, eu voltava a cobrar (http://bit.ly/1jJN0Wn). Voltei a cobrar em agosto (http://bit.ly/1jJGLBV) e assim sucessivamente durante meses. Nem um mísero veículo de imprensa investigou as relações entre a quadrilha e o Senador da República, alardeada por próprios membros da quadrilha e pela própria PM de Cláudio. Até mapinha da cidade eu ofereci, junto com dicas dos melhores botecos.
Flash forward para 2013: um helicóptero pertencente a outro Senador da República, Zezé Perrella, indicado para a vaga de suplente de Itamar Franco pelo próprio Aécio Neves (com as bênçãos de Fernando Pimentel, do PT, não nos esqueçamos), é pego com MEIA TONELADA de pasta base, o que significa mais ou menos uma tonelada de cocaína. Assim como as relações de Aécio com Valentim e Quêdo eram conhecidas por qualquer pinguço de Cláudio, as relações de Perella com Aécio, e o fato de que o armazém dos Perrella sempre vendeu mais do que só linguiça, são conhecidos até pelos pombos da Praça da Liberdade de Belo Horizonte. Se há relações entre os dois fatos, claro, só a investigação pode mostrar. Mas Perrella também costuma cavalgar em Cláudio. Número de linhas dedicado pelo jornal Folha de São Paulo ao fato de que o helicóptero de um Senador da República foi pego com meia tonelada de cocaína: ZERO. Número de minutos dedicados pelo Jornal Nacional ao fato de que o helicóptero de um Senador da República foi pego com meia tonelada de cocaína: ZERO. Parabéns, imprensa brasileira!