Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Caio César: Eu Conheço Maria!

Caio César
Historiador e Cientista Político
Eu Conheço Maria! Eu conheço uma senhora. O nome dela é Maria. Mora na Rua, se escondendo da morte. Anda o dia todo, pedindo pão e lixo, ou moedas para depositar nas igrejas, sua fé. De pés descalços com uma roupa de Zé ninguém, perambula a Dantas Barreto,Rua do Imperador, Avenida Guararapes, Rua da Concórdia, o Bairro de São José. Enfim... os calçamentos inversos do Recife. Não sei como Maria consegue sorrir e viver tão feliz se escondendo da morte?! Parece que sua simpatia ganha vida com seu sorriso sem dentes e suas rugas hostis que apressa sua vida a cada segundo. Me aproximei de Maria e com medo de oferecer a ela umas moedas, a vi com lágrimas nos olhos, bem triste. Inquieto... como já a conhecia nos tempos que ela recolhia papelão para vender e sustentar seu pão e sua cachaça, onde eu participava das doações...Parei! E sem saber o que perguntar do porque de seu pranto, também chorei! Sei lá, bateu em mim um sentimento de Maria. E aí ela olhou-me, e fez: ei menino da farmácia, tu tá chorando também? Eu queria mentir, para não deixá-la mais triste, mas não, fui Macho e encarei-me sem medo!!! Respondi: Tô Maria! Ela perguntou porque...e eu disse que por causa dela. Que não era mais a Maria do Papelão... era outra Maria... que fazia das calçadas sua cama e da lama sua cachaça. Mas sem perder mais tempo, a perguntei porque ela chorava, e ela me respondeu: Oiaaaa moço, João levou meu pão, minha cachaça e minhas moedas!!! (choro)... (Mais Choro)... (soluço)... e agora moço da farmácia?!! (choro).. tou com fome, tou com sede e não vou poder dá minhas moedinhas na igreja!!! (Choro)... Perguntei quem era João e ela me respondeu: é aquele ali oiáaaaa... - Já dobrando a Duque de Caxias-. João era um homem que anda o dia todo, pedindo pão e lixo ou moedas para depositar nas igrejas. De pés descalços com uma roupa de Zé Ninguém, perambula as mesmas ruas de Maria e toda vez que a Vê, a toma o que lhe é de Direito, seu sorriso sem dentes e suas rugas hostis. Pois são eles que me fez por um momento Reconhecer a Maria dos Papelões, do pão e cachaça, mas que se perdeu nas ruas do RECIFE. Ruas de tantas Marias e Joãos que foram jogados e esquecidos como se fossem lixos e que a única sobrevivência é se esconder da morte!

Mortadelas: Aula de Organização Política

Simples!!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Sobre bolinhas de papel, helicópteros e tarjas pretas

Primeiro veio a bolinha de papel. Depois o aeroporto em Cláudio/MG. Depois o helicóptero com 450 kg de pasta base de cocaína. E agora o relatório com a tarjas pretas da Polícia Federal. Assim o PSDB se reafirma como o Partido Mais Corrupto do Brasil!
Não estão sabendo?
Pegue o relatório da perícia do celular do Marcelo Odebrecht neste link abaixo. 
Abra-o no Adobe Reader. 
Onde houver uma tarja petra, copie e cole no Word. 
Vai aparecer o que havia por baixo da tarja. Uma das tarjas esconde o que está na imagem acima. Eu mesmo fiz o teste! E confirmam o nome de José Serra (JS - em outra citações) como envolvido na Operação Lava Jato. Ainda há outras siglas que devem ser esclarecidas. Por exemplo, GA! Geraldo Alckmim nega que seja ele. Outra,  RA ao lado da palavra VEJA, sugere ser do Blogueiro da Revista VEJA Reinaldo Azevedo. Mas, claro, ele também nega.
Resta à PF apurar quatro coisas, então. Primeiro, quem da PF vazou o relatório para o Estadão. Depois, quem colocou as tarjas pretas. A Polícia Federal ou o Estadão? Com que intuito? E quem são GA e RA da VEJA!
Se aparecer algum GM, eu garanto, não é de Giovani de Morais!!!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Gregório Duvivier: Não quer ajudar? Não atrapalha!

Gregório Duvivier - Escritor e Ator

Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista

É sempre a mesma coisa. Primeiro todo o mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: "Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (...). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém".

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?"

O estranho é que, independente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada --melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

sábado, 4 de julho de 2015

Júlia Dworkin: Carta à Dilma

Julia Dworkin
Carta reproduzida do Facebook de Julia Dworkin

Dilma,
Eu vou falar diretamente com você. Sei que você não vai ler isso aqui, mas eu gostaria de ter uma conversa com você, de mulher pra mulher.
Eu não sou petista. Atualmente, me encontro recém incluída no debate político, mas eu já sei que discordo demais de muitas políticas do PT. Me considero de esquerda e minha oposição em nada se parece com a oposição exercida pela direita conservadora e hipócrita do Brasil. Essa oposição que não gosta de ver pobre comprando carro e empregada doméstica com direitos. Minha oposição se deve à outras coisas, mas não vim falar delas. Só iniciei essa introdução porque essa não será uma conversa sobre política. Será uma conversa sobre você.
Eu lembro quando você se elegeu em 2010. Na época, eu não entendia absolutamente nada de política e nem sequer votei em você. Mas eu lembro do que eu senti quando te vi com a faixa presidencial pela primeira vez. Eu lembro que mesmo eu não sabendo exatamente o que aquilo significava, eu fiquei feliz. Eu fiquei confusa, estranhei bastante, mas ver alguém que poderia ser minha mãe representando o Brasil, fez com que eu me sentisse mais próxima à tudo.
Você começou a fazer parte da minha vida. O fato de você ser mulher fez isso: eu me sinto próxima de você. Quando falo de política e de você, me sinto falando de alguém que eu conheço e convivo. E isso não se deve ao PT e eu não me sentia assim com o Lula ou com nenhum outro político. É estranho, né? Eu não sei explicar. Mas pela primeira vez, eu me interessava quando a figura de representatividade máxima falava na televisão. Eu gosto de te ver. Adoro ver você falar na televisão. Nas últimas eleições, eu adorava ver televisão e ouvir sua voz.
Essa semana te vi na televisão. Você estava abatida e com um semblante triste. Pudera.
Eu nunca vi um presidente do Brasil passar pelo que você passou. Eu sequer imagino o que você está sentindo depois de tantas adversidades, humilhações, escárnios e críticas oportunistas. Nem mesmo o FHC, e eu lembro vagamente de que ele era odiado por todo mundo na época.
Mas eu não vi o tipo de coisa que vejo as pessoas fazendo com você. Eu não vi adesivos desrespeitosos, vaias, charges absolutamente machistas e que ignoram totalmente sua posição nesse país. E eu imagino o que você deve estar passando. Você é uma mulher que representa uma país machista e que está em crise. Eu tenho plena consciência que você sabia o que tava por vir, mas isso não quer dizer que você tenha que aguentar sozinha. Até porque você não está sozinha e suas companheiras estão além da política. Como eu.
Vim aqui te dizer Dilma, que apesar das divergências políticas que tenho com o governo, eu te admiro profundamente. Admiro sua história e sua postura. Admiro sua coragem. E ouvir você falar me emociona, todas as vezes. Quero te dizer que eu sofro e choro com você todas as vezes que te atacam de forma pessoal, cruel e criminosa. Dói em mim. Toda vez que me deparo com esses ataques, sempre penso em como você está se sentindo ao ver aquilo. E penso em todas as vezes que isso já aconteceu comigo e com as mulheres que eu gosto, não em nível nacional, mas ainda assim. Quando vejo os olhares que te lançam e a forma que falam de você, lembro-me de quantas vezes enquanto eu falava, homens me olhavam com aquele mesmo olhar de desprezo. E quantas vezes falaram de mim de forma desrespeitosa e cruel. Lembro da insegurança que sinto quando vou falar em público, lembro de como eu me sinto ao falar em espaços que eu sei que todos acreditam não ser meu. Eu me lembro o quanto é dolorido e difícil. E seu rosto abatido não mente.
Seu rosto abatido da última semana me representa. Representa todas as mulheres atacadas, agredidas, silenciadas e humilhadas nesse país.
Seu rosto da última semana me lembra o quanto mulheres pagam mais caro.
Eu me preocupo com você, irmã. Minha admiração por você está para além do governo ou do momento que estamos vivendo.
Porque apesar de QUALQUER COISA, foi você que ao colocar aquela faixa de presidenta do Brasil disse pra mim que eu PODERIA CHEGAR LÁ. Você disse pra todas as mulheres que aquilo era possível. Que nós existimos. E toda a sua coragem diante dos ataques machistas e desumanos nos diz: Não só existimos. Como RESISTIMOS e SOBREVIVEMOS. Você é parte da nossa história.
E isso nunca NINGUÉM vai te tirar. E eles nunca entenderão o que isso representa pra mim e pra muitas outras mulheres desse país. E nós jamais esqueceremos de você. E também não esqueceremos do que fizeram contigo, do desrespeito e da falta de humanidade. Não vamos esquecer do último dia da mulher, quando um jornal colocou a representante máxima desse país de joelhos em uma charge. Não vamos esquecer isso, pois foi um recado para todas nós.
Você não tá sozinha Presidenta e eu vim te dizer que você deve sempre lembrar quem você é. Nunca abaixe a cabeça. Não deixe que esses dias muito duros te façam esquecer que você é uma sobrevivente, uma mulher, mãe, avó, filha e a primeira mulher que disse pra nós: "um dia pode ser você".
Obrigada.
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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)