Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Caio César: A história de seu Damião e seu Pe. Cícero dentro da minha história

Caio César
Historiador e Cientista Político
Lembro-me bem, quando fui ao sertão da Paraíba, numa cidadezinha chamada Emas. Pequenina no tamanho, mas de um povo acolhedor e esperançoso. Tiram da fé, a força para poderem sobreviver a cada dia de sol escaldante e a omissão de um gestão política cruel. Muitos ligados ao "Padinho Pe. Cícero", o santo responsável por fazer "inacabar" seus sonhos. Lá não existe homens cientistas, da razão pura, do absoluto conhecimento das coisas. O que lá existe, é a tolerância ao que o esforço e suor de cada dia e o agradecimento a Deus e ao Santo Pe. Cícero, a cada comida posta na mesa, representavam em suas vidas. As representações de Pe. Cícero estavam espalhadas em todas as partes, de todos os jeitos, sejam nas residências, na única agência bancária do local, no único posto de saúde, nas igrejas - digo até mesmos nas evangélicas-, no único dentista, na prefeitura, nas estampas das camisas do povo. Aonde você fosse, à ignorância assim chamada por alguns donos razão, "Padim Cícero" a representava. Ao lado da casa que me abrigou, no período de férias, residia ali uma família daquele sertanejo de Euclides da Cunha, "Antes de tudo um forte", cujo o conhecido como o Pai do Lar, de nome seu Damião, o senhor com uma idade entre 75 e 85 anos, encontrava-se enfermo sobre uma cama. Foi ali, logo após adentrar- me, que meu coração passou a reconhecer a força da fé, através de uma simples imagem de argila, uma simples e "ignorante" representação. Ele olhou-me de longe, reparando que um estranho, invadira seu lar. Com um ar de liderança e de impor a mim e aos meus pés, que aquele lugar era dele e só dele, o fez. Sentir- me assustado. Não apenas por me bater o medo do reconhecimento de Seu Damião a minha pessoa, mas por vê- lo tão perto da invalidade completa, onde à morte, já lhe fazia companhia. Aproximei- dele e ele fortemente agarrou minha mão, e a pôs em cima do santinho Pe. Cícero agarrado ao seu peito, como se minha força e do santo, o ajudasse a viver um pouquinho mais. Minhas lágrimas escorreram em meu rosto e junto escutei bem baixo, quando ele pediu- me para lhe fazer uma prece e sem largar a mão direita do Santo de argila. Notei isto, quando das vezes que amolecia minha mão, para soltar a representação do Santo, ele mais ainda a agarrava com força. A fiz. E com todo jeito e gosto que seu Damião pediu: Sem tirar a mão do Santo, e com a outra fechando-lhes os olhos e depois alisando sua cabeça, para que nossas fés fossem uma só. Assumi esta responsabilidade com tanto gosto, que o Senhor dormiu, como se fosse uma criancinha num colo de uma mãe, mas sem largar o Pe.Cícero, assim como muitas crianças não largam seus bichinhos de pelúcia, ao deitar-se para sonhar. Mas o tirei de seu peito e o coloquei embaixo de seu travesseiro, pois tinha medo de ao virar, machucar-se. Sair de sua casa feliz, pois aprendi com seu Damião e seu santinho de argila, o Pe. Cícero, que no fundo eu nunca fui de fato um homem da razão pura, que afirma que "é só uma representação", mas que dentro de mim, existe um homem que mesmo sem sentido algum, passou a reconhecer que muitas vezes a luta pela sobrevivência, independente da ciência e sim da prática real que a vida oferece. Afinal, o que seria de mim e de seu Damião se eu jogasse fora ou quebrasse o seu santinho Pe. Cícero, antes de fazer a prece? Ignorante ou Tolerante? O que talvez, falte a nós humanos, é apenas reconhecer que de todos os jeitos e modos, somos intolerantes a coisas que não cremos. E que impor aquilo que acreditamos como única verdade é o que nos faz oprimir àquele que sua única ciência, encontra-se em seu coração.

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(Joseph Pulitzer)