Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Partido Partido



Lembro de quando cobria eventos do PT, nos batentes do jornalismo político em Pernambuco, e ouvia da militância entusiasmada o seguinte bordão: “partido, partido, é dos trabalhadores!”. Sempre ria comigo mesmo do trocadilho que a frase gerava porque, realmente, não conheço partido mais partido do que o dos trabalhadores. O processo de prévias ocorrido recentemente no Recife externou bem essas fraturas, responsáveis pela autoimplosão da legenda no Estado.

As disputas internas para a escolha de um candidato são salutares e democráticas. François Hollande, novo presidente da França, travou dois turnos de uma confrontação dura dentro do próprio partido, o Socialista, antes de ser ungido como concorrente de Nicolas Sarkozy e, numa memorável campanha de coesão em torno do seu nome, derrotar o postulante à reeleição.

Mas, sob as lonas desse circo petista montado no Recife, o que se viu foi uma bufonaria das piores. Houve ali uma briga intestina por poder que jogou de um lado o inepto, combalido e alienado João da Costa e, de outro, um grupo de oportunistas encarnados por Maurício Rands, que viu na tibieza do prefeito o cartão vermelho com que poderia expulsá-lo do jogo e substituí-lo no cargo, como se o Recife fosse um feudo do PT. 

Ficou absolutamente claro que o único fim dos dois grupos era a prefeitura, com o seu prestígio, seus cargos, seu polpudo orçamento. Às favas, o Recife, pelo qual nenhum dos lados se mostrou realmente interessado em zelar e propor soluções aos graves problemas que o assolam.

A verdade é que, na capital, o PT perdeu o gosto de administrar. Doze anos de gestão jogaram o governo municipal numa inação e numa letargia sem precedentes, em prejuízo total da cidade. O partido passou a girar em torno do próprio eixo. E o Recife virou uma espécie de satélite, sem luz própria, servindo apenas para orbitar em torno dos caprichos do politburo petista. Virou sua periferia. O PT demonstrou, assim, que só tem interesse no poder pelo poder.

Não há resultado a ser tomado quanto às eleições do domingo que venha a redimir as imensas rachaduras na sua estrutura. Ela está condenada. Não há como repará-la. Se ela não desmoronar sozinha, precisa ser destruída e refundada em novas bases, se o partido quiser seguir existindo em Pernambuco.

Mantida a vitória de João da Costa, ninguém supõe ver Rands, Humberto Costa e João Paulo, o doutor Frankenstein do atual prefeito, em seu palanque. O fogo de fuzilaria aberto mutuamente inviabilizou qualquer possibilidade de reconciliação verdadeira entre as duas partes. Da mesma forma, se uma decisão vier mudar o resultado das eleições e declarar derrotado o ganhador do domingo, é sensato acreditar que João da Costa não mandará flores a Rands.

A tudo, Eduardo Campos assiste confortavelmente do Palácio do Campo das Princesas. Com os altos índices de aprovação de que dispõe, ele encarna para o eleitor a segurança da continuidade. Mas sou capaz de apostar que não vai gastar seu capital político para salvar o PT do próprio lamaçal em que se meteu. Cindindo com os petistas no Recife, ele encarnará também a vantagem da mudança com um candidato próprio, depois de mais de uma década de petistas na prefeitura. O bom coelho que tem guardado na cartola não demorará a aparecer.

Com uma oposição tão ou mais aparvalhada quanto o PT, não duvido que passeie imponente, braços dados com o seu candidato, sobre tamanho mafuá de incompetentes. Tem grandes chances de abocanhar a capital – eterno calcanhar de aquiles dos arraesistas – e aumentar seu poder político e pessoal na disputa de 2014, para onde lança gordos olhos. O que seria uma lástima para o saudável equilibrio das forças políticas em Pernambuco.

Num cenário conturbado assim, em que os nomes não estão postos, é impossível arriscar que candidatos ou que partidos teriam mais chances de vencer a disputa pela prefeitura. Mas, a cinco meses da guerra nas urnas, já se tem claramente o nome do grande derrotado das próximas eleições no Recife: o Partido dos Trabalhadores.

Alberto Lima é jornalista

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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)