Muito poderíamos falar sobre o lamentável 20 de janeiro de 2012. Poder-se-ia falar sobre a horrível situação do transporte público, sobre o preço abusivo das passagens, sobre a má qualidade do serviço, sobre a falta de transparência na contratação do convênio ou, ainda, sobre a promiscuidade das relações entre o empresariado do transporte metropolitano e os detentores do poder local.
Mas, hoje, devemos falar sobre um assunto muito mais importante. Vamos falar não somente sobre uma agressão à integridade física das pessoas, mas sobre uma cruel agressão ao que existe de mais sagrado em nosso país: o direito das pessoas de se reunirem livre e pacificamente para manifestarem suas opiniões.
Talvez não haja nada mais clichê no discurso do movimento estudantil do que a recorrência à bravura daqueles que durante o regime totalitário lutaram pela democracia. Mas é inevitável não lembrar da ditadura militar ao ver o Batalhão de Choque da PM disparar contra estudantes reunidos numa praça. Poderíamos dizer, por isso, que ontem seria um dia para ser esquecido. Mas não. Ontem não é um dia para se esquecer. Ontem é um dia para ser lembrado. Para que nós não nos esqueçamos que a democracia não é algo pronto, não é um presente que recebemos da alguns homens engravatados reunidos em assembleia.
Democracia é um presente que o povo dá a si mesmo dia após dia, e que a consolidação desse ideal democrático é um dever de cada cidadão. A democracia não é um “lugar” onde não existem erros. É um lugar onde os erros podem e devem ser corrigidos. Diante do incontestável erro que aconteceu ontem é que nós do Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho viemos lembrar às autoridades do seu dever para com as instituições democráticas desse país.
É preciso lembrar ao governador Eduardo Campos, comandante chefe da Polícia Militar de Pernambuco, que a Constituição deste país, à qual ele jurou fidelidade, protege em seu mais sagrado artigo o direito à livre manifestação, e que um pedido público de desculpas não seria só de extrema conveniência política, mas principalmente um dever diante da democracia e de um Estado que teve tão brilhantes defensores desta, como o ex-governador Miguel Arraes.
Devemos também lembrar ao Reitor Anísio Brasileiro que ele jurou, em campanha, há poucos meses, defender a Universidade Federal de Pernambuco, e que nem nos tempos da ditadura militar ou mesmo do império seria admissível que uma força estadual atacasse uma instituição federal.
E, por fim, gostaríamos de esclarecer à Diretora da Faculdade de Direito do Recife, Luciana Grassano, que o patrimônio da nossa Casa foi, sim, gravemente violado. Porque a FDR não são vigas, concreto e mármore. Nós já nos mudamos de prédio várias vezes e continuaremos a existir ainda que rua o prédio centenário, porque nossa Casa é um patrimônio cultural e histórico do povo brasileiro. Ela é símbolo da nossa emancipação. Nossa Casa é casa de ideias e de luta. Ideias e luta por um sonho: o de uma sociedade de justiça e liberdade. Sonho esse tragicamente ofuscado pelo pesadelo do dia 20. Diante disso, nós, estudantes desta casa, não ficaremos calados e esperamos que as autoridades também não se calem. Pois, se existe algo mais triste que o silêncio dos porões, é o silêncio da covardia.
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