Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Ao Mestre Progressista Com Carinho


Há tempos tenho acompanhado o movimento do que chamamos de blogsfera progressista. Há tempos tenho ficado assustado.
Acompanhei, como observador, discussões que descambavam para o “Esse aí é um nada, não tem audiência”, em uma referência a um pobre coitado que tem um bloguinho com poucas visitas em detrimento do super hiper mega plus contador de visitas do progressista famoso.
“Você não tem audiência, é um Zé ninguém”
“Se não concorda é porque é burro”
“Vocês têm que pensar assim “.
Essas frases estão todos os dias na boca da direita, especificamente, na grande imprensa.
Mas, como como a moda é o compartilhamento, essas frases estão sendo usadas, em larga escala, pelo que chamamos de blogueiros progressistas.
Hoje é comum quando alguém questiona um famoso ter como resposta a baixa audiência como um argumento para desqualificar o debatedor.
Tem também aquele que se julga o William Bonner da esquerda progressista e deixa claro que a verdade está no que ele diz ou escreve. Nem ouse pensar diferente!
Não fosse apenas isso, a blogosfera tem um sentimento estranho de que foram eles que garantiram a vitória da Dilma, do Haddad e talvez até do Papa Fransciso. Rede? Não, a MINHA REDE!
Claro que isto não é um sentimento, não para eles. Isso é a verdade absoluta, logo como é possível que algum governo neste mundo possa funcionar sem ouvi-los? A REDE? Não. Eles! Afinal eles são a rede, ou ao menos a representam!
A rede, até onde eu saiba, sou eu e você. São eles, somos nós... A rede não é um ou meia dúzia.
Sem eu, ou nós, a rede deles não existe. Isso é ma-te-má-ti-ca, mas também podemos chamar de sociologia, dependendo do que se quer ou espera da rede. Número ou debate?
Bom, hoje me peguei em um debate, porque nunca me senti um número, com um desses progressistas. Confesso que há tempos já não lia o conteúdo do blogueiro. Nada pessoal, mas eu sempre gostei de ler e tirar minhas conclusões, mas os textos dele sempre foram cheios de afirmações absolutas e verdadeiras e eu ficava até constrangido (irônico) em buscar outras opiniões.
Hoje o blogueiro definiu a galera do “rolezinho”, dos jovens da periferia em shoppings, como “filhos da puta” e que esse “circo”(?) deveria acabar. Tudo bem é a opinião dele. Mas daí, para rebater argumentos contrários, o “progressista” me vem com a pérola: “Ainda bem que vocês são burros e vão enojando as pessoas.”. 
Bom, então quem não compartilha com as ideias, nem tanto progressistas dele, é burro e enoja as pessoas. E a Claudia continua lá, sentadinha!
Eu, sem nada para fazer, fui lá e disse que me sentia burro por não entender o motivo para se proibir o “rolezinho” e me sentia enojado por ler tanto ódio, em referência a outros comentários de seguidores pedindo porrada, cadeia, etc...
Fizemos um quase debate, lembrando que ele já havia rotulado todos os contrários a ele de burros eu fiz a seguinte perguntinha: “OFF TOPIC: Quando o sujeito acusa as pessoas de BURRAS por não concordarem com ela é um sinal de fascismo, falta de espírito democrático ou só falta de educação? #DuvidaComovente”.
O blogueiro se sentiu ofendido, disse que o chamei de fascista e me acusou de “incitar a violência contra inocentes”. Não fiz nem uma coisa nem outra. Nem o chamei de fascista e muito menos incitei violência alguma.
Quando pedi para que o “progressista” respondesse minha pergunta, qual seria a opinião dele em relação às pessoas que taxam de burras as que não pensam como elas e colasse nos comentários onde foi que incitei a violência recebi como resposta um BLOCK.
Ele olhava para mim e via um número, é a maldita matemática. Aquela que eles usam para defender os argumentos. Tenho um zilhão de seguidores, logo sou o todo poderoso da rede!
Nossa blogosfera progressista só vai ser progressista de verdade quando trocar a exata pela humanas. Isso tá longe de acontecer, infelizmente. 
Desculpem, mas é o que temos para hoje!
Caro Eduardo Guimarães, se tiver a resposta que te pedi ainda a espero.
#AbraçoProgressista

Marco Biruel

Opinião dO Cachete:
Está na hora da Blogosfera Progressista reavaliar a rede de relacionamentos. Muitas estrelas estão esquecendo os objetivos dela...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ives Gandra - O Estado Delinquente

O Estado delinquente

POR IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, NA FOLHA

O Estado deve indenizar por danos morais todo criminoso que não tiver direito a cumprir sua pena nos estritos limites da condenação

Todo criminoso deve ser punido. Cabe ao Poder Judiciário condená-lo, após o devido processo legal e respeitada a ampla defesa. É o que determina a lei suprema (artigo 5º, incisos LIV e LV).

Nas democracias, o processo penal objetiva defender o acusado, e não a sociedade, que, do contrário, faria a justiça com as próprias mãos.

O condenado deve cumprir a sua pena nos estabelecimentos penais instituídos pelo Estado, em que o respeito à dignidade humana necessita ser assegurado.

Quando isso não ocorre, o Estado nivela-se ao criminoso. Age como tal, equiparando-se ao delinquente, da mesma forma que este agiu contra sua vítima.

A função dos estabelecimentos penais é a reeducação do condenado, para que, tendo pago sua pena perante a comunidade, retorne à sociedade preparado para ser-lhe útil.

Os cárceres privados constituem crime. Quem encarcera pessoas, tirando-lhes a liberdade, deve ser punido e sofrer pena que o levará a experimentar o mesmo mal que impôs a outrem.

E o cárcere público? Quando um criminoso já cumpriu o prazo de sua pena e tem direito à liberdade, mas o Estado o mantém encarcerado, torna-se o ente estatal um delinquente como qualquer facínora.

Todo condenado deve cumprir sua pena, mas nunca além daquela para a qual foi condenado. Se o Estado o mantém no cárcere além do prazo, torna-se responsável e deve ser punido por seu ato. Como não se pode encarcerar o Estado, deve-se pelo menos pagar indenizações à vítima pelos danos morais causados.

A tese vale também para aqueles que forem condenados a regimes abertos ou semiabertos e acabarem por cumprir a pena em regimes fechados, por falta de estrutura estatal, pois estarão pagando à sociedade algo que lhes não foi exigido, com violência a seu direito de não permanecerem atrás das grades. Nesses casos, devem também receber indenização por danos morais.

A tese de que todos são iguais e não deve haver privilégio seria correta se o Estado mantivesse estabelecimentos que permitissem um tratamento pelo menos com um mínimo de respeito à dignidade humana. Como isso não ocorre, a tese de que todos devem ser iguais e, portanto, devem “gozar” das péssimas condições que o Estado oferece é simplesmente aética, para não dizer algo pior. Em vez de o Estado dar exemplo de reeducação dos detentos, a tese da igualdade passa a ser garantir a todos tratamento com “igual indignidade”.

Enquanto a Anistia Internacional esteve no Brasil, pertenci à entidade. Lutávamos, então, não só contra a tortura, mas contra todo o tratamento indigno aos encarcerados, pois não cabe à sociedade nivelar-se a eles, mas dar-lhes o exemplo e tentar recuperá-los.

Por isso, ocorreu-me uma ideia que sugiro aos advogados penalistas e civilistas –não atuo em nenhuma das duas áreas–, qual seja, a criação de uma associação, semelhante àquela que Marilena Lazzarini criou em defesa dos consumidores, para apresentar ações de indenização por danos morais em nome das pessoas que: a) cumpram penas superiores àquelas para as quais foram condenadas; b) cumpram penas em regimes fechados, quando deveriam cumpri-las em regime aberto ou semiaberto; c) cumpram penas em condições inadequadas.

Talvez assim o Estado aprendesse a não nivelar-se aos delinquentes. Sofrendo o impacto de tais ações, quem sabe poderia esforçar-se por melhorar as condições dos estabelecimentos penais, respeitar prazos e ofertar dignidade no cumprimento das penas.

Todo criminoso deve cumprir sua pena, mas nos estritos limites da condenação e em condições que não se assemelhem às dos campos de concentração do nacional-socialismo.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 78, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra
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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)