Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

domingo, 28 de agosto de 2011

Direção do Hotel Naoum Confirma Crime de Veja

DIVULGAÇÃO

NÃO FOI JOSÉ DIRCEU (ESQ.), MAS SIM O HOTEL QUE REGISTROU B.O. CONTRA O REPÓRTER QUE, PAUTADO POR MARIO SABINO (DIR.), TENTOU INVADIR UM DOMICÍLIO; INFRAÇÃO PODE DAR PENA DE UM A TRÊS MESES; FABIO BARBOSA ASSUME ABRIL TENDO DE LIDAR COM CRIMES; POLÍCIA TOMARÁ DEPOIMENTOS DE JORNALISTAS NOS PRÓXIMOS DIAS

Leonardo Attuch no 247

Na edição do jornal O Globo deste domingo, sobre o caso José Dirceu/Revista Veja, há uma informação relevante, ainda que escondida na reportagem. A direção do hotel Naoum Plaza, em Brasília, confirmou ao Globo que houve tentativa de invasão de domicílio por parte do repórter Gustavo Ribeiro, que foi pautado pelo redator-chefe Mario Sabino – interino no comando, pois o diretor Eurípedes Alcântara está em férias – para seguir os passos do ex-ministro José Dirceu. O crime de invasão de domicílio está previsto no artigo 150 do Código Penal: “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”. O crime pode gerar pena de detenção de um a três meses.
Todas as informações prestadas pelo Naoum Plaza vêm sendo repassadas pela gerente Elisabeth Mendes (beth@naoumplaza.com.br). Num caso de invasão de domicílio num hotel, um boletim de ocorrência pode ser registrado tanto pelo hóspede quanto pela administração do empreendimento, que tem a obrigação de zelar pelo domicílio temporário de seus clientes. “As duas partes são vítimas”, disse ao 247 o criminalista José Roberto Batochio, um dos mais renomados do País. De acordo com Batochio, o crime pode ser ainda agravado. “É preciso ver com que intenção foi tentada uma invasão de domicílio”, diz ele. “Seria para suprimir documentos, computadores?” Neste caso, argumenta o advogado, as penas seriam ampliadas porque estariam configurados outros delitos.
O B.O. foi registrado pelo chefe da segurança do hotel na 5ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal. Fontes policiais e da Secretaria de Segurança Pública do GDF confirmaram que, nos próximos dias serão tomados vários depoimentos. A começar pela camareira que foi abordada pelo repórter Gustavo Ribeiro. Ele, que se hospedou num quarto próximo ao de José Dirceu, afirmou a ela que havia perdido as chaves e tentou entrar no quarto do ex-ministro, quando foi descoberto e saiu do hotel sem fazer check-out. Também serão ouvidos o próprio repórter e o jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da revista Veja em Brasília – há ainda a possibilidade de que seja convocado a depor o jornalista Mario Sabino, que, interinamente no comando de Veja, pautou a reportagem.

Confissão de culpa
Na Editora Abril, que a partir da próxima semana terá um novo presidente, o executivo Fábio Barbosa, sabe-se que o crime foi cometido. Mas a estratégia é de simplesmente ocultá-lo gritando mais alto, por meio de sua tropa de choque, liderada pelo blogueiro Reinaldo Azevedo.
Reinaldo tem escrito em seus posts que a direção do hotel foi instada a registrar o boletim de ocorrência. Ao contrário disso, o hotel confirma que registrou o B.O. por iniciativa própria porque também se sentiu vítima de uma crime cometido por outro hóspede, chamado Gustavo Ribeiro. Aliás, o hotel não tinha conhecimento de que se tratava de um jornalista de Veja. Poderia ser, simplesmente, um assaltante tentando entrar no quarto de um hóspede vizinho – e, por isso mesmo, a direção do hotel tomou a iniciativa de registrar a ocorrência.

Inversão de valores
Nessa tentativa de ganhar no grito, Reinaldo Azevedo tem argumentado que Veja estourou um aparelho clandestino, montado em plena democracia, para conspirar contra a democracia. Ele, que prega agora a demissão do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, por ter se encontrado com José Dirceu, seu companheiro de partido, alega ainda que a reportagem de Veja deste fim de semana foi uma das mais importantes da era democrática. Isso porque teria havido a invasão do bunker do poderoso chefão – José Dirceu, nosso Kadafi – pela democracia.
Um quarto de hotel não é um aparelho.
Veja não tem poderes de polícia.
Veja não é a democracia.
É parte da democracia, quando age dentro da lei.
Conspira contra a democracia, quando infringe a lei.
Do contrário, seria lícito que pautássemos um de nossos repórteres para invadir a residência da família Azevedo para descobrir eventuais indícios de ligações com a Secretaria de Comunicação do governo de São Paulo – que sabemos inexistentes. Ou também que invadíssemos a residência da família Sabino para buscar registros de viagem recentes na Costa Amalfitana, durante o casamento de um próspero advogado criminalista.

Oportunidade rara
Neste domingo, o futuro presidente da Editora Abril, Fábio Barbosa, escreveu seu último artigo na Folha de S. Paulo, onde é colunista. Barbosa construiu a imagem de “executivo do bem”, com um discurso de sustentabilidade nas empresas por onde passou, como o Real e o Santander.
No artigo deste domingo, ele, mais uma vez, exerce esse papel de “bom moço corporativo”, apontando os valores da cidadania. “Ninguém vive sozinho, e nossas atitudes (boas e más) impactam o todo, que deve ser construído junto”. Termina ele seu texto argumentando que se deve empunhar a bandeira da cidadania e agir de forma coerente.
Barbosa terá plenos poderes na Abril, inclusive sobre a área editorial, a partir de setembro.
Sua coerência será colocada em xeque.
O bom moço corporativo será tolerante com um crime?

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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)