Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Três Assaltos com Paulo Maluf e Augusto Nunes!

Três assaltos com Paulo Maluf, aquele que por pouco não virou presidente do Brasil

PRIMEIRO ASSALTO (sala de estar da casa na Rua Costa Rica, no Jardim América)

─ Que livro o senhor está lendo? ─ pergunto ao governador Paulo Maluf no meio da entrevista para as páginas amarelas de VEJA.

Eu decidira introduzir o tema por dois motivos. Primeiro: interromper a discurseira sobre Petropaulo, rodovias, viadutos e outras façanhas administrativas do entrevistado ─ em São Paulo, como se sabe, tudo foi Maluf quem fez. Segundo: como políticos brasileiros não têm muita intimidade com estantes, queria pegá-lo no contrapé.

– A Terceira Onda, do Alvin Tofler – responde de bate-pronto.

Era o sucesso da hora. Tratava de novas tendências da economia, como a terceirização de serviços, e já vendera milhões de exemplares no mundo inteiro. Ele nota que estou surpreso e parte para a ofensiva.

– Você já leu?

– Ainda não.

– Pois leia. Vai aprender alguma coisa.

O Doutor Paulo vence o primeiro assalto.

SEGUNDO ASSALTO (estúdio da TV Gazeta, Avenida Paulista)

─ Que livro o senhor está lendo? – volto a perguntar dois anos mais tarde ao ainda governador Paulo Maluf.

Como a conversa no programa Veja Entrevista se arrastava por canteiros de obras e promessas a cumprir quando chegasse à Presidência da República, resolvera repetir o truque.

– A Terceira Onda, do Alvin Tofler ─ responde de bate-pronto.

Contenho o entusiasmo ao deduzir que ele havia esquecido a conversa anterior. Chegou a minha vez, penso enquanto saboreio antecipadamente a vingança. Solto o direto no fígado:

─ Ainda não acabou de ler ou está lendo de novo?

─ Como assim? ─ ele parece intrigado.

─ Há dois anos, o senhor me disse que estava lendo esse livro. Quero saber se não chegou ao fim ou se gostou tanto que resolveu reler.

Maluf parte para o improviso sem pausa:

─É o meu livro de cabeceira.

Acuso o contragolpe e ele retoma a ofensiva:

─ E você, já leu?

Não, ainda não lera.

─ Está perdendo uma boa chance de melhorar a cabeça ─ ironizou.

O Doutor Paulo vence o segundo assalto.

TERCEIRO ASSALTO (estúdio da RBS TV, Porto Alegre)

– Que livro o senhor está lendo? – pergunto oito anos depois do segundo assalto ao agora prefeito Paulo Maluf.

A entrevista está chegando ao fim, eu nem planejara surpreendê-lo, só resolvera mudar de assunto. Maluf, sempre sem pausas:

– A Terceira Onda, do Alvin Tofler.

Quase caio da cadeira. Demoro a acreditar no que acabei de ouvir. O prodígio de memória capaz de chamar pelo nome todos os integrantes da família real saudita ─ um viveiro de Abns e Ibns ─ esqueceu que já dissera aquilo duas vezes. Dessa ele não escapa.

– Acho estranho ─ começo. ─ Há dez anos, o senhor me disse que estava lendo isso. Há oito anos, também. O senhor só leu esse livro?

O Grande Falante emudece momentaneamente. Parto para o ataque:

─ Já li o livro ─ antecipo-me.

Estou mentindo, mas Maluf não tem como saber.

─ Achei só razoável, não é coisa para se ler a vida inteira ─ tripudio.

E então consigo o milagre: ele perde a calma.

─ Eu leio o que quero! ─ esbraveja. ─ Você não tem nada com isso! E isso não é assunto para entrevista séria! Ou mudamos de tema ou paro por aqui!

Mudamos de tema e a entrevista prossegue sem mais sobressaltos.

Perdi a luta por 2 a 1. Mas achei que fui tão bem no terceiro assalto que me atribuí o título de campeão moral.

Do Blog do Augusto Nunes

Opinião dO Cachete:
Observo um certo saudosismo no Augusto Nunes. Uma certa torcida pelo "Presidente Paulo Maluf". Triste, não é? O Tio Aécio Neves deve ficar triste, também!

Pergunta 1: Alguém confiaria deixar a carteira com dinheiro e cartões de crédito na sala desta entrevista? O próprio título da matéria já me deixou com um frio na barriga, mas depois eu entendi que ele falava de pugilismo. E no final, quem assaltou quem? O Maluf - bom em assaltos e/ou rounds - e o Augusto Nunes - Um assassino... de reputações! Hajam artigos do Código Penal!

Pergunta 2: Para o Augusto Nunes. Com exceção do Prefácio do Livro "Cuba, Hoje" escrito por você, e com certeza lido e relido narcisicamente, você já leu algum livro? "O Pequeno Príncipe" não vale, Miss Revista VEJA!

2 comentários:

marci disse...

Exceção?

Giovani de Morais e Silva disse...

Obrigado, Marci! Fui traído pela pressa! Muito obrigado!

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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)