Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

domingo, 4 de novembro de 2012

Golpe: Um Alerta Vindo da Caserna



Prezado Eduardo Guimarães,

É um grande prazer em contactar consigo novamente. É dispiciendo reafirmar o meu respeito por sua pessoa e suas posições enquanto militante da blogosfera. Espero ser recíproco esse respeito, dadas as nossas interlocuções, já de alguma data.

A respeito de suas postagens em seu prestigioso blog Cidadania, em especial as duas últimas, considero ser necessário algumas colocações sobre as considerações ali contidas. Ressalto que falo apenas em meu nome, não me cabendo externar nenhuma posição em nome da Força. Falo como cidadão brasileiro, pois o fato de ser um oficial de Infantaria não me restringe os direitos de cidadão; ao contrário, às vezes, de forma equivocada, até hiperboliza esses direitos.

Um filósofo disse certa vez, que o homem é ele e suas circustâncias. Plenamente de acordo. E as circustâncias da realidade sócio-política do Brasil, de agora, caro Eduardo, são de apreensão quanto ao futuro de nossa novel democracia. Apreensão que se justifica ao ler suas arrazoadas análises.

Embora concordando com suas acuradas análises sobre o quadro político atual, permita-me discordar do desfecho que você propõe como possível. Um golpe que rompa o tecido democrático-institucional, em países como o Brasil, só é possível com o apoio do aparato militar. Mesmo em Honduras e no Paraguai, onde houve golpes heterodoxos, houve também um considerável suporte militar (em Tegucigalpa, uma guarnição militar prendeu o presidente Zelaya e o segregou). Isso nos permite várias leituras:

__ Alguns governos de esquerda/trabalhistas governam (governavam) ainda com certo ranço sectário e anti-militar (mormente no Paraguai e em Honduras);

__ Alguns governos de esquerda/trabalhistas não se preocupam em formar um sólido suporte militar, que lhes permitam neutralizar esses tentames golpistas. Apesar de profissionalizadas, as Forças Armadas, notadamente seus comandos, são compostas por agentes também políticos e, como tais, sensíveis a articulações políticas que, minimamente, atendam seus pleitos no que concerne à recuperação de sua capacidade dissuasória. A Força Armada do Brasil não está dissociada de seu povo.

No caso da realidade brasileira, vejo um segmento político-ideológico (PSDB/DEM/PPS) articular-se com parcelas consideráveis da mídia impressa/falada/televisada, para criminalizar e alijar do jogo democrático um outro agrupamento partidário (o PT), usando para isso técnicas e táticas de contra-informação, aliadas, em algumas vezes, à manipulação da informação, pura e simples.

Aí você me pergunta: onde é que essas práticas podem levá-los? Eu diria, Eduardo, que tais práticas, por mais nefandas que se possa qualificá-las não terão o condão de romper com a normalidade democrático-institucional; quando muito, podem desgastar o agrupamento oponente. E supondo que tais desgastes venham, num crescendo, para desembocar em uma subversão da ordem constitucional, para se efetivar em uma quebra dessa ordem e depor um governo legítima e constitucionalmente eleito, eles precisarão de um apoio militar efetivo. Parafraseando o general Castelo Branco, eles terão que vir aos bivaques bulir com os granadeiros…

E hoje, posso lhe afiançar, se esses segmentos políticos que namoram práticas golpistas, vierem aos quartéis, ganharão um sonoro não como resposta. O conjunto da minha Força, e creio que também da FAB e da Armada, tem muito claro as responsabilidades de nossas missões primordiais: garantir a soberania do território nacional, garantir e manter a integridade de nosso tecido democrático-institucional e evitar a deposição de um governo constitucionalmente eleito, fora das soluções prescritas pela Constituição da República. O que exceder a isso será considerado por nós como golpe contra o ordenamento constitucional vigente. E como golpe será tratado.

Quanto ao resto, o jogo político-eleitoral propriamente dito, que as várias forças políticas joguem o jogo, respeitem e sigam as regras. E que vença a que o povo escolher.

E não venham aos bivaques bulir com os granadeiros.

Cordialmente,

Maj. Mascarenhas Maia
Oficial de Infantaria – EB

Comentário no Blog da Cidadania de Eduardo Guimarães

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)